Disponibilização: sexta-feira, 24 de junho de 2022
Diário da Justiça Eletrônico - Caderno Administrativo
São Paulo, Ano XV - Edição 3533
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Nada mais justo, portanto, que um homem desta grandeza e com os predicados que tem, faça parte efetiva e fotografada
da história de nossa amada Corte, tanto em corredor da Presidência do Direito Privado, já lá fincado anteriormente, como é
agora neste da Vice-Presidência. Sua marca de história fica, portanto, a partir de hoje, gravada em mais um painel dos grandes
homens que fazem a nossa memória.
É um momento muito importante, raro em verdade, porque aqui se vê como poucos são aqueles que dentre tantos de nós
chegaram a esta marca. É um momento muito importante. É honra que se leva para toda uma vida e se imortaliza, porque aqui,
como dirigentes eleitos pelos seus pares nesses quase 150 anos história do nosso Tribunal, estamos fincados. É honra que se
leva para toda uma vida, já disse isso, que se imortaliza, honrados também somos todos nós, Artur [Marques da Silva Filho],
membros do Judiciário, que pudemos contar com toda a sua dedicação à carreira durante todo o tempo em que a ela se dedicou.
Artur [Marques da Silva Filho], querido amigo, é uma honra para mim poder homenageá-lo com essa fala singela, mas sincera,
de coração, tenha certeza.
Conte com a amizade e a gratidão de todos nós. Nós devemos a você, o Tribunal de Justiça deve a você, e os cidadãos
também devem a você.
Muito obrigado a todos por me ouvirem.
Vice-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo no biênio 2018/2019, Desembargador Artur Marques da Silva
Filho:
Gostaria de falar com o coração. Optei por escrever algumas palavras, temendo que a emoção contaminasse minha fala
e eu me perdesse. Quero dizer-lhes um pouco da minha vida extracurricular. E um bom começo é evidenciar a minha família.
A Nieta [Antonieta Marques da Silva;] foi sempre, e é, a minha direção; foi sempre a minha fortaleza nestes dias de mais de
40 anos. Com muita discrição e carinho conduziu com mão firme e muita tolerância as nossas vidas: minha, de meus filhos e,
atualmente, dos meus três netos. De sua doçura não se engane, ela é firme e educadora.
Vou falar um pouco mais de mim. A minha primeira infância passei em Sertanópolis, no Paraná, onde nasci. Meus ascendentes
maternos eram italianos e vieram com os colonos trabalhar na cafeicultura em Caconde, no alto da Mogiana. Com a quebra
de nossa monocultura cafeeira, os italianos e meus avós seguiram na busca de terra e se deslocaram para Sertanópolis, onde
se estabeleceram. Quero ressaltar que as famílias, as nossas, de meus avós, se uniram. A irmã mais velha de meu falecido
pai casou-se com o irmão mais velho de meu avô; e uma das filhas de meu avô, casou-se com meu pai. Juntos e misturados,
partimos para outras terras com o espírito próprio dos imigrantes. Tenho parentes de ambas as cidades e as frequento sempre
que posso, Sertanópolis e Caconde. E Bragança também.
Eu sou um verdadeiro caboclo do sertão: simples, altruísta e esperançoso. Em Bragança Paulista fiz o curso primário e,
após aprovação no exame de admissão, cursei o ginásio. Em seguida prestei exame e foi admitido em outro estabelecimento
interiorano, a Escola Agrotécnica Doutor Carolino da Motta e Silva, em Espírito Santo do Pinhal. A ideia de meus familiares era
que eu voltasse a trabalhar na lavoura, vejam só. Mas para realizar esses exames, me hospedei em uma pensão onde convivi
com outro estudante, vindo do Mato Grosso, um pouco mais velho, que seus pais queriam que ele voltasse a cuidar da fazenda.
Ele tinha um veículo que nos transportava da cidade para a escola. Neste mesmo ano prestei exame no Centro de Formação
e Aperfeiçoamento, hoje a Academia do Barro Branco, da Polícia Militar. Os cursos me habilitaram tornar Oficial. Antes de
ingressar na Magistratura, portanto, exerci algumas funções honrosas. Trabalhei no Gabinete do Prefeito de São Paulo Miguel
Colasuonno durante todo o período em que ele foi Secretário de Planejamento e Prefeito por uma razão bem simples: o Miguel
gostava de andar de motocicleta e eu andava de motocicleta nessa época, até com uma certa ousadia. Como Tenente e como
Capitão também comandei a Polícia Rodoviária, situada em Jundiaí e Campinas. Como pessoa, às vezes eu vivia um paradoxo:
era um Militar comprometido com as ordens e disciplina, mas debatia comigo mesmo o cumprimento de certas regras; era o lado
de minha origem italiana contrariando ordens, até um pouco de anarquia. Por que não, eu era jovem.
Aprendi muito cedo, e porque também não dizer, com certo sofrimento, que eu deveria ser participativo, apesar, podem rir,
da minha notória timidez, própria do interiorano. Reuniu-se em mim a simplicidade do caipira e a tenacidade e a perseverança
de imigrantes. Procurei ser justo e perfeito nas minhas tarefas. Concursos, eleições, e disputas, portanto, sempre fizeram parte
da minha vida. São caminhos que permitem uma convivência mais democrática, onde se igualam as pessoas pelo conhecimento
e esforço.
No curso de minha existência no serviço público, se cometi falhas peço a todos que relevem à conta do erro involuntário
derivado da fraqueza humana. Obtido esse perdão, tenho que confessar: fui e sou muito feliz nas várias funções que exerci na
Polícia, na Magistratura, no Ensino Superior e no Associativismo.
Quando se aproximava a aposentadoria eu não fiquei triste, comentava com Nieta: “agora eu vou fazer o que mais gosto,
viajar e ficar com os meus filhos e netos. Viajaremos juntos”. No entanto, chamado por um grande amigo que tem escritórios em
São Paulo, no Rio e em Brasília, fui convencido de que não deveria deixar de trabalhar. Animado pelo convite, me inscrevi na
Ordem [dos Advogados do Brasil] e estava já me preparando para montar uma PJ [Pessoa Jurídica]. Porém, ainda me reservava
a vida outra missão, isto é, fui chamado pelos amigos do Conselho da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São
Paulo, no qual já participava há doze anos, e convenceram-me a participar de outra eleição. Eleito Presidente desta Associação,
que é uma das maiores da América Latina, deixei as esperanças de advogar de lado.
Publicação Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - Lei Federal nº 11.419/06, art. 4º